terça-feira, 4 de março de 2008

Aprender a duvidar

"(...) Não tenhamos ilusões: uma academia é absolutamente necessária para o aluno aprender que ela não é absolutamente necessária.

Os artistas que nunca frequentaram uma escola de Belas-Artes (e não são poucos) apenas perderam a ocasião e as condições para experimentar e ensaiar caminhos, não perderam a Arte.(...)

A escultura não se aprende. A escultura não se faz, a escultura não é barro. A escultura constrói-se com o que se tem à mão ou nos é mais familiar: ferro, pedra, alcatrão, papel, fotografia, lápis, video, voz, luz, corda, palavras, cimento, palavras de cimento. Uma escultura não é uma existência definitiva nem é esse o seu valor. Uma escultura é um módulo de pensamento, é apenas uma possibilidade, uma hipótese. É uma dúvida, que se transmite a outros (só a alguns, não a todos). É um homem pendurado por um fio, de cabeça para baixo, a tentar manter-se acordado.

Na minha experiência pessoal tive o privilégio de poder conhecer algumas pessoas extraordinárias, entre professores e alunos (aprendi muito com eles) e a oportunidade de lidar com pessoas medíocres, entre professores e alunos, o que me preparou para enfrentar o mundo real, onde há tanta gente medíocre. Também a estes estou profundamente reconhecido. O pior que pode suceder a um jovem candidato a artista é ter ilusões acerca de uma escola de Belas-Artes. Ela é apenas um local onde artistas, teóricos e alguma pessoas ligadas à arte tentam desenvolver estruturas que permitam aos menos experientes ultrapassar a sua insegurança e atacar, de frente, aquilo que acham que pretendem fazer."

Rui Chafes, "O silêncio de..."

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